Oxumarê – Orixá do Arco-Íris, a Serpente Sagrada do Movimento e dos Ciclos da Natureza

 Ilustração artística de Oxumarê, o Orixá do arco-íris e da serpente sagrada, representando os ciclos da natureza, a renovação espiritual e o equilíbrio entre céu e terra.

Ao iniciarmos este novo post da série Orixás, saudamos Oxumarê como aquele que une céu e terra, conduz o movimento contínuo da vida e guarda os mistérios da renovação e da abundância. Representado simultaneamente como serpente e arco-íris, Oxumarê é o elo entre mundos, o ciclo eterno da criação e do retorno, símbolo da transformação, da fertilidade e da prosperidade. 

Sua presença se manifesta nos ritmos da natureza, nas sete cores do arco-íris, nos ciclos do tempo e nos processos de cura profunda. É ele quem faz a chuva subir e descer, quem distribui a energia vital que alimenta a terra, e quem conduz as almas em seu fluxo de crescimento e evolução.

Origem e Mitologia

Oxumarê é o Orixá do arco-íris e da serpente sagrada, uma das divindades mais enigmáticas e fascinantes do panteão afro-brasileiro. Ele representa a dualidade essencial da existência: masculino e feminino, céu e terra, Yin Yang, espírito e matéria, luz e sombra. Oxumarê não é apenas a união dos opostos — é o movimento que os conecta, o fluxo que torna possível a transformação e a continuidade da vida.

Reza a lenda que Oxumarê nasceu com o corpo de serpente, e por isso foi rejeitado por sua mãe. Mas foi acolhido por Oxalá, que reconheceu em sua forma única uma força divina destinada a equilibrar o mundo. Desde então, Oxumarê passou a cumprir uma missão sagrada: circular a Terra sete vezes por dia, sustentando-a com seu corpo e garantindo que os ciclos naturais nunca deixem de girar. Ele é o elo entre os mundos, o arco-íris que liga o céu à terra, o símbolo do movimento eterno da criação.

Outra tradição narra que Oxumarê muda de gênero a cada seis meses, expressando ora a energia masculina, ora a feminina. Essa fluidez de identidade faz dele um arquétipo de liberdade interior, de transcendência das categorias fixas e dos papéis sociais. Ele é o Orixá que acolhe a diversidade, a transformação e a multiplicidade dos caminhos. Por isso, também é muito cultuado por pessoas que se sentem fora dos padrões, que vivem processos de transição, cura e renascimento.

Em algumas versões do mito, Oxumarê também está ligado à abundância, sendo associado ao controle das riquezas e ao fluxo do axé material e espiritual. É ele quem faz chover quando a terra precisa de fertilidade, e quem leva as águas da chuva de volta ao céu, mantendo o ciclo da vida. Em forma de arco-íris, aparece nos céus como sinal de bênção, renovação e aliança com o divino.

Essas narrativas evidenciam Oxumarê como o Orixá do movimento eterno, da transmutação e da continuidade da vida. Ele ensina que tudo está em constante mudança e que a verdadeira força está em saber fluir com os ciclos, integrando luz e sombra, masculino e feminino, céu e terra. Sua mitologia nos convida à aceitação da diversidade e da impermanência como partes fundamentais do caminho espiritual.

Oxumarê nos ensina que tudo está em movimento: o tempo, os sentimentos, os corpos, as fases da vida. Nada permanece igual, e é nessa impermanência que reside a sabedoria. Ele nos guia pela espiral da existência, ajudando-nos a confiar nos altos e baixos, a aceitar os finais como novos começos e a fluir com as mudanças como parte natural do caminho da alma.

Arquétipo e Significados Espirituais

Oxumarê representa o arquétipo do movimento contínuo, da renovação e da dualidade integrada. Ele é o princípio que liga os extremos, o fluxo que rompe as estagnações e reconfigura os caminhos. Seu arquétipo é o da serpente que se transforma, que muda de pele, que carrega a sabedoria milenar dos ciclos da vida.

Espiritualmente, Oxumarê é invocado em rituais de transformação, transição e renascimento. Ele rege processos em que é preciso abandonar velhas formas para que algo novo possa emergir. Por isso, está intimamente ligado à cura, especialmente de doenças crônicas, emocionais ou espirituais que exigem paciência, persistência e regeneração profunda.

Sua energia é também ligada à prosperidade e ao fluxo das riquezas, tanto materiais quanto sutis. Oxumarê não acumula — ele faz circular. Ensina que tudo tem seu tempo, e que a abundância verdadeira se manifesta quando há equilíbrio entre dar e receber, guardar e soltar, reter e confiar.

Oxumarê acolhe a fluidez da identidade, do gênero, do sentimento, do desejo. Representa as almas que transitam entre mundos, que não cabem em definições estreitas. É símbolo de liberdade e autenticidade. Sua presença inspira coragem para viver quem se é, sem medo da mudança, da metamorfose, do não saber.

Na natureza, sua força é vista nos arco-íris e nas serpentes, nos rios que se curvam, nas cores da natureza, no vai e vem das marés, no girar das espirais. Ele está presente em cada curva do destino, em cada reviravolta da existência, nos mistérios que não se explicam, mas se sentem e se vivem.


Correspondências e Símbolos

Oxumarê é representado pelo arco-íris e pela serpente, símbolos universais de ligação entre os mundos. O arco-íris, com suas sete cores, expressa a integração da diversidade, a ponte e a elevação espiritual. Já a serpente representa a renovação, o movimento cíclico da vida e o poder de transmutar, de trocar a pele para nascer de novo.

Entre os muitos significados desse arquétipo, destaca-se a imagem do Ouroboros — a serpente que morde a própria cauda — símbolo do eterno retorno, da unidade e da natureza cíclica do universo.

As cores de Oxumarê são o amarelo e o verde, que refletem sua ligação com a natureza, a vitalidade, a fertilidade e a abundância. Seu dia da semana tradicional é a terça-feira, quando suas forças são cultuadas em rituais de renovação, prosperidade e equilíbrio.

Entre as ervas consagradas a Oxumarê estão a folha da fortuna, a erva-cidreira e o manjericão, usadas em banhos e defumações que trazem cura emocional, renovação espiritual e abertura de caminhos. Seus alimentos sagrados incluem o acarajé, o inhame e o milho cozido, muitas vezes ofertados com mel, simbolizando doçura e prosperidade.

Na astrologia, Oxumarê se relaciona com Plutão e o signo de Escorpião, por sua natureza de morte e renascimento, transformação e poder oculto. Também se conecta profundamente com Quíron, o curador místico que transita entre mundos — assim como Oxumarê transita entre céu e terra. Essa combinação fala da cura que vem pela consciência, da sabedoria que se revela no movimento, e da arte como expressão da alma.

Oxumarê é o sopro de vida que se renova, a espiral sagrada que conduz à evolução. Ele nos lembra que nada permanece igual, que tudo muda, e que dentro de cada fim habita um recomeço.

Sua saudação é “Arroboboi Oxumarê!” (lá na Casa de São Lázaro é "Orobobô, Oxumarê"), expressão que invoca sua presença vibrante e sagrada, pedindo equilíbrio, movimento e renovação em todas as áreas da vida.

Sincretismo e Presença nas Religiões Afro-Brasileiras

Na tradição afro-brasileira, Oxumarê é amplamente cultuado no Candomblé, especialmente nas nações Jeje e Ketu, onde sua presença é tida como essencial para manter o equilíbrio das forças do mundo. Sua energia está associada à dualidade e ao movimento constante — ele é masculino e feminino, terrestre e celeste, água e fogo, matéria e espírito.

No sincretismo religioso, Oxumarê é frequentemente associado a São Bartolomeu, santo celebrado em 24 de agosto, conhecido por ter sido esfolado vivo e, mesmo assim, ter permanecido fiel à fé. Essa ligação aponta para os temas da renovação, da resistência espiritual e da superação das dores como portais de transformação.

Nos rituais de Umbanda, Oxumarê costuma aparecer com menos frequência, mas sua energia pode ser percebida em entidades ligadas à natureza, à renovação e à cura espiritual. Sua presença é evocada especialmente quando há necessidade de restaurar o fluxo vital, superar crises e trazer de volta o equilíbrio entre forças opostas.

Oxumarê ensina que tudo está em constante transformação e que a vida é feita de ciclos que se entrelaçam. Ele atua como ponte entre os extremos, trazendo a sabedoria de que não há fim definitivo, apenas mudança — e que a verdadeira prosperidade vem do movimento harmonioso entre o que fomos, o que somos e o que podemos nos tornar.


Características dos Filhos de Oxumarê

Os filhos e filhas de Oxumarê carregam em si o mistério das metamorfoses. São pessoas que passam por transformações profundas ao longo da vida, renascendo muitas vezes das próprias crises com mais força, beleza e sabedoria. Em geral, não permanecem estagnados por muito tempo — há em seu espírito um impulso natural de renovação e movimento.

Costumam ter uma aura magnética, com uma beleza incomum e uma certa ambiguidade ou androginia que fascina. Podem exibir alternância de humores ou interesses, transitando entre momentos de introspecção e exuberância, do recolhimento à sociabilidade intensa. São criativos, versáteis e intuitivos, muitas vezes ligados às artes, à espiritualidade ou à ciência.

Essas pessoas têm uma necessidade interna de circular, buscar, investigar. Curiosos e questionadores, são atraídos por tudo que represente crescimento, evolução, saber oculto ou sabedoria ancestral. Costumam lidar bem com o novo, com o diferente e com o que desafia normas — não raro se sentem atraídos por temas tabu, transgressões conscientes ou expressões não convencionais da identidade.

A espiritualidade é um aspecto essencial em suas jornadas. Mesmo quando tentam negar essa dimensão, a vida se encarrega de reconduzi-los para ela — seja por meio de crises, encontros marcantes ou chamados internos. Os filhos de Oxumarê são curadores natos, mas só encontram sua força plena quando aceitam o próprio processo de cura, com coragem de se despir de velhas peles.

É comum também apresentarem talentos múltiplos e mudanças de trajetória ao longo da vida. São bons comunicadores e têm facilidade em transitar por diferentes meios sociais. Em geral, carregam em si o arquétipo do buscador ou do alquimista, e mesmo quando não compreendidos, trazem sementes de renovação por onde passam.

Oração a Oxumarê

Arroboboi Oxumarê!
Divino Arco-Íris, ponte viva entre o céu e a terra,
serpente sagrada que move os ciclos da vida,
traz tua luz de renovação e tua força de transformação.

Tu que és beleza em movimento,
cura em espiral,
sabedoria que dança no tempo,
envolve meu corpo e minha alma com teu brilho multicolor.

Oxumarê, Senhor dos mistérios que ligam os opostos,
desfaz as repetições que me prendem,
cura o que ainda sangra em silêncio,
renova minha fé na caminhada da alma.

Tu que levas a água que fecunda a terra,
Ajuda-me a aceitar as mudanças com coragem,
traz contigo a fartura, o ouro e o alimento sagrado.
Multiplica meus dons, abre caminhos de prosperidade,
faz florescer a abundância em minha vida.

Que tua presença me inspire leveza,
sabedoria, harmonia e plenitude nos caminhos.

Arroboboi Oxumarê!
Assim seja!


Conclusão

Oxumarê nos convida a compreender que a vida é feita de ciclos: dias e noites, chuvas e secas, alegrias e dores — tudo se renova, tudo se transforma. Ele é o princípio do movimento constante, do ir e vir da existência. Por isso, sua força nos ensina a abraçar as mudanças com sabedoria, a nos curar das feridas do passado e a renascer com mais beleza, consciência e prosperidade.

O Arco-Íris que forma sua presença no céu é símbolo da unidade dos contrários, da reconciliação das polaridades e da conexão entre mundos. Oxumarê é tanto masculino quanto feminino, tanto serpente quanto luz — e, por isso mesmo, nos mostra o poder que nasce da integração e do equilíbrio.

Ao nos sintonizarmos com sua energia, encontramos o caminho da cura profunda, da riqueza verdadeira e da leveza interior. Que possamos reconhecer sua presença em cada mudança, em cada espiral que nos transforma e nos eleva.

Arroboboi Oxumarê! 🌈🐍

Este post faz parte da série especial sobre os Orixás. Veja aqui Ogum, Oxum, Xangô, Iansã, OxóssiIemanjáObaluayê/OmuluNanã e Oxalá. Em breve traremos outros textos dedicados a Exú, Logunedé e muito mais, sempre com respeito, profundidade e conexão espiritual.

Ilustração artística de Oxumarê, o Orixá do arco-íris e da serpente sagrada, representando os ciclos da natureza, a renovação espiritual e o equilíbrio entre céu e terra.

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