Um dos Deuses Mais Amados do Hinduísmo
Ganesha, também chamado de Ganesa, Ganesh ou Ganapati, é uma das divindades mais conhecidas e reverenciadas do hinduísmo. Filho primogênito de Shiva e Parvati, é considerado o patrono dos novos começos, o removedor de obstáculos e o senhor da sabedoria. Sua consorte é Buddhi, também conhecida como Riddhi e Siddhi, símbolos da inteligência, do sucesso e da realização espiritual.
Na composição de seu nome, a sílaba “Ga” representa Buddhi (intelecto), e “Na” simboliza Vijnana (sabedoria superior). Ganesha é, portanto, a personificação da mente iluminada, aquele que governa o discernimento e a clareza interior.
Tradicionalmente, é retratado como uma divindade de pele amarela ou vermelha, com uma grande barriga, quatro braços e a cabeça de elefante com uma única presa. Monta um rato — animal simbólico que representa a mente sutil. Costuma ser representado em posição sentada, com uma perna dobrada sobre a outra, indicando equilíbrio entre ação e contemplação. Em geral, precede-se ao seu nome o título de respeito hindu Shri ou Sri, em sinal de reverência. Mas na internet já encontrei inúmeras variações de sua representação.
A história da cabeça de elefante
Existem diversas versões sobre como Sri Ganesha passou a ter a cabeça de um elefante, mas a narrativa mais difundida encontra-se no Shiva Purana, um dos textos clássicos da mitologia hindu.
Certa vez, Parvati desejava tomar banho, mas não havia guardas por perto para proteger sua privacidade. Usando seu próprio suor e argila, ela moldou uma figura humana e, com seu poder divino, deu-lhe vida — assim nasceu Ganesha. A ele, Parvati deu a ordem expressa de não permitir a entrada de ninguém na casa enquanto ela estivesse recolhida.
Logo depois, Shiva retornou da floresta. Ao tentar entrar, foi impedido por aquele garoto desconhecido, que bloqueava a passagem com firmeza. Mesmo ao afirmar ser o marido de Parvati, Shiva não conseguiu convencê-lo. Ganesha, fiel à ordem da mãe, manteve sua posição com determinação.
Certa vez, Parvati desejava tomar banho, mas não havia guardas por perto para proteger sua privacidade. Usando seu próprio suor e argila, ela moldou uma figura humana e, com seu poder divino, deu-lhe vida — assim nasceu Ganesha. A ele, Parvati deu a ordem expressa de não permitir a entrada de ninguém na casa enquanto ela estivesse recolhida.
Logo depois, Shiva retornou da floresta. Ao tentar entrar, foi impedido por aquele garoto desconhecido, que bloqueava a passagem com firmeza. Mesmo ao afirmar ser o marido de Parvati, Shiva não conseguiu convencê-lo. Ganesha, fiel à ordem da mãe, manteve sua posição com determinação.
Tomado pela fúria, Shiva sacou seu Trishula (tridente) e decepou a cabeça de Ganesha com um só golpe. Quando Parvati saiu e viu o corpo de seu filho caído, foi tomada por uma dor imensa. Indignada, exigiu que Shiva o trouxesse de volta à vida.
Para reparar o erro, Shiva ordenou que seus servos — os Ganas — saíssem em busca da cabeça da primeira criatura que encontrassem dormindo com a cabeça voltada para o norte. Eles encontraram um elefante, tomaram sua cabeça e a colocaram no corpo de Ganesha.
Assim, Ganesha renasceu — agora com sua aparência inconfundível — e foi reconhecido como Ganapati, o Senhor das Tropas Celestiais. Desde então, passou a ser reverenciado como o deus que deve ser invocado antes de qualquer novo início, pois simboliza proteção, sabedoria e remoção de obstáculos.
O significado espiritual de Ganesha
Ganesha é amplamente reconhecido como o símbolo da solução lógica, do bom senso e da inteligência prática aplicada à vida. Conhecido como o Destruidor de Obstáculos — tanto no plano material quanto espiritual —, ele é invocado sempre que se deseja clareza, fluidez e proteção nos caminhos a seguir.
Sua consorte, Buddhi, representa a mente racional e a sabedoria discernente. Por isso, Ganesha é cultuado por estudiosos, intelectuais e também por comerciantes e empresários, que o reverenciam ao lado de Lakshmi, deusa da prosperidade e da abundância. Fora da Índia, seu culto ganhou força em diversas tradições espirituais ao redor do mundo. Seus devotos são chamados de Ganapatyas.
Como arquétipo universal, Ganesha expressa a união de opostos em harmonia: força e ternura, poder e beleza, sabedoria e compaixão. Ele simboliza a capacidade de discernir o essencial do ilusório, de perceber a verdade por trás das aparências, conduzindo o ser rumo à perfeição espiritual e à realização do Eu.
Mantras e invocações a Ganesha
Uma descrição abrangente das qualidades espirituais e atributos simbólicos de Ganesha pode ser encontrada no Ganapati Upanishad, um texto védico dedicado exclusivamente a ele, atribuído ao rishi Atharva. Nesse hino sagrado, Ganesha é exaltado como a divindade que sintetiza sabedoria, poder e unidade cósmica.
O Ganapati Upanishad também apresenta um dos mantras mais reverenciados associados a Ganesha:
Om Gam Ganapataye Namaha (Literalmente: “Eu Te saúdo, Senhor das tropas.”)
Este bija mantra, poderoso e conciso, é recitado por milhões de devotos como uma forma de invocar proteção, remover obstáculos e despertar a inteligência superior. Ele sintetiza a essência espiritual de Ganesha como força orientadora para a clareza e a expansão da consciência.
Tradicionalmente, todas as sessões de bhajan — os cânticos devocionais hindus — começam com uma invocação a Ganesha, o Senhor dos Bons Inícios. Isso reflete seu papel essencial como divindade que remove obstáculos e prepara o caminho para o sucesso espiritual e material.
Em toda a Índia de cultura hindu, é comum que Ganesha seja a primeira deidade entronizada em novos templos, casas ou empreendimentos. Sua presença é um símbolo de proteção, bênção e estabilidade desde o princípio.
O simbolismo do corpo de Ganesha
Cada elemento do corpo de Ganesha carrega um significado espiritual profundo. Ele não é apenas uma figura mitológica, mas um símbolo vivo de sabedoria universal, cujos traços corporais refletem ensinamentos sobre consciência, equilíbrio e transcendência.
- Cabeça de elefante: representa fidelidade, inteligência e poder discriminativo. A cabeça grande também simboliza a capacidade de contemplar o todo e perceber a essência por trás das formas.
- Única presa: uma das presas está quebrada (e usada como caneta, segundo algumas lendas), o que simboliza a superação do dualismo. Ganesha transcende os opostos — luz e sombra, prazer e dor — mantendo-se centrado na unidade interior.
- Orelhas grandes e abertas: denotam sabedoria e escuta profunda. Indicam a habilidade de ouvir com atenção aqueles que buscam ajuda, bem como a importância da escuta para assimilar verdades espirituais. As orelhas simbolizam também o aprendizado contínuo — são portas do conhecimento.
- Tromba curvada: expressa as potencialidades intelectuais e a capacidade de discernir entre o real e o ilusório. A tromba flexível representa adaptabilidade, atenção plena e percepção refinada.
- Trishula desenhado na testa: o tridente de Shiva, presente na testa de Ganesha, representa o tempo em suas três dimensões — passado, presente e futuro —, e a superioridade da consciência sobre ele. Também remete aos três gunas da natureza (bondade, paixão e ignorância), que Ganesha domina, tal como seu pai, Shiva.
- Barriga volumosa: contém os infinitos universos, simbolizando a generosidade da natureza e a equanimidade do sábio. A barriga de Ganesha expressa a capacidade de absorver e transmutar os sofrimentos do mundo, acolhendo a imperfeição sem se desequilibrar.
- Postura das pernas: uma perna repousa no chão enquanto a outra está cruzada sobre a coxa. Essa posição revela o ensinamento de viver no mundo sem se apegar a ele — participar plenamente da vida material sem perder o eixo espiritual.
Os quatro braços de Ganesha e seus significados
Os quatro braços de Ganesha representam os quatro atributos do corpo sutil, de acordo com a filosofia védica:
- Manas (a mente, que sente e deseja)
- Buddhi (o intelecto, que analisa e decide)
- Ahamkara (o ego, senso de identidade)
- Chitta (a consciência condicionada, onde as impressões são armazenadas)
Ganesha, como manifestação da pura consciência — o Atman — é aquele que coordena e transcende esses quatro aspectos. Ele simboliza o estado de presença consciente capaz de integrar mente, intelecto, ego e memória sem se perder neles.
Cada uma de suas mãos carrega um instrumento sagrado:
- A machadinha (parashu): simboliza a renúncia aos desejos que geram sofrimento. Com ela, Ganesha corta os apegos e destrói os obstáculos internos e externos. Também representa a força que guia o ser humano de volta ao caminho da verdade e da retidão.
- O chicote (pasha): representa o poder que conduz o devoto à libertação. É o impulso espiritual que nos afasta dos prazeres ilusórios e nos direciona à bem-aventurança divina. O chicote ensina que os laços do mundo devem ser afrouxados para que o ser se eleve.
- A mão voltada ao devoto: está na postura de abhaya mudra, o gesto da proteção, da bênção e do refúgio. É a garantia de que, sob a proteção de Ganesha, o caminho será mais seguro e guiado pela sabedoria.
- A flor de lótus (padma): símbolo do mais alto ideal espiritual, representa o florescimento do verdadeiro Eu. Mesmo nascendo da lama, o lótus se abre em pureza. Assim também é a alma humana: capaz de despertar, apesar das condições do mundo.
O rato como símbolo da mente e do ego
O rato — ou mushika, em sânscrito — é a montaria de Ganesha e carrega um simbolismo profundo. Ele representa sabedoria, talento e inteligência investigativa, características associadas à mente inquieta e curiosa. O rato é pequeno, silencioso e capaz de penetrar nos espaços mais ocultos — por isso, também simboliza a capacidade de investigar minuciosamente assuntos complexos.
Ao mesmo tempo, por viver nos esgotos e nas sombras, o rato é um símbolo da ignorância que habita as trevas, daquilo que teme a luz do conhecimento e evita o confronto com a verdade. Representa o ego, a mente dominada pelos desejos e pelo orgulho da individualidade.
Ganesha, ao montar sobre o rato, demonstra seu domínio absoluto sobre essas tendências. Ele não é guiado por elas — é quem as guia. Esse gesto revela o poder do intelecto desperto e da consciência discriminativa de manter a mente sob controle, transformando instintos inferiores em veículos de sabedoria.
Ganesha como manifestação do som primordial Om
Ganesha é também conhecido pelos nomes Omkara ou Aumkara, que significam literalmente: “aquele cuja forma é a própria sílaba sagrada Om (ou Aum)”. Esse som primordial, reverenciado em todas as tradições védicas, é considerado a vibração original do universo, a fonte de toda a criação.
A forma física de Ganesha, com sua cabeça arredondada e corpo curvo, é muitas vezes interpretada como uma representação gráfica do traçado da letra Devanagari que simboliza o mantra Om. Essa associação reforça a ideia de que Ganesha não é apenas uma divindade individual, mas uma encarnação do próprio Cosmos.
Nos textos védicos, ele é chamado de Vishvadhara (“aquele que sustenta o universo”) e Jagadoddhara (“aquele que eleva o mundo”). Sua presença está na base de todo o mundo fenomenal, como sustentação espiritual e cósmica.
Além disso, na escrita tâmil, a sílaba Om é graficamente expressa por um caractere que lembra o formato da cabeça de Ganesha, reforçando ainda mais essa correspondência entre forma, som e consciência universal.

As belas ilustrações foram selecionadas do Devianart e estão com devidos créditos e linkis para os álbuns dos autores. As que estão sem crédito foram criadas com I.A.
Jaya Ganesha!
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Muito síncrono com o meu pensamento amigo...Ontem mesmo eu pensei, bem que o Dalla podia colocar umas ilustraçóes dos Deuses indianos...Nossa,tudo bem que foi só um,mas mesmo assim, fiquei chocada!
ResponderExcluirte adoro, beijo tina
Que ilustrações lindas, linda seleção
ResponderExcluirOlá, Marcelo,
ResponderExcluirTenho ouvido mantra para Ganesha, durante o sono, portanto mais de 108 vezes ...
Haveria algum problema?
Li que ouvir mais que as 108, perderia sua força ...
Vc concorda?
Sou grata
Bia
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