HISTÓRIAS DE AMOR - Quando o Silêncio Explode

Betina era a arrumadeira de Rodrigo, um solteirão convicto e executivo em ascensão. Enquanto ele crescia na empresa, cuidava melhor de si mesmo: roupas elegantes, corpo moldado na academia, charme que se acentuava com o tempo. Cada detalhe novo só alimentava a paixão platônica de Betina, que lutava contra o desejo em silêncio.

Ela se dedicava além do necessário: chegava cedo, saía tarde, lustrava móveis até ver o reflexo da própria face, arrumava a cama como se fosse altar, organizava os livros como se fossem relíquias. Tudo era feito com devoção, mas, na verdade, movido por uma paixão cada vez mais difícil de conter.

No início, dizia a si mesma que era apenas admiração. Mas, quanto mais tentava reprimir, mais os sentimentos se intensificavam. A rotina se transformou em ritual: espiava pelo buraco da fechadura, demorava-se diante da foto dele no porta-retrato, aspirava o cheiro das roupas íntimas ao dobrá-las. 

Cada detalhe, cada aproximação, era um abismo mais fundo. Quando Rodrigo trazia mulheres para casa, o ciúme a devorava. Era como se um punhal atravessasse seu peito.

Até que um dia, o silêncio explodiu. Num ímpeto de loucura, Betina entrou no banheiro enquanto Rodrigo tomava banho. Ele se virou, atônito, e a viu imóvel, ofegante, com os olhos faiscando entre desejo e devoção. Pediu que se retirasse. No dia seguinte, a demitiu.

Nos primeiros dias, Rodrigo experimentou alívio. Mas logo a ausência ganhou peso. A casa parecia menos viva, os gestos cotidianos perderam um brilho que só ela sabia dar. Foi nesse vazio que Rodrigo percebeu, tarde demais, que também a amava.

O inconsciente cobra seu preço: o desejo reprimido pode explodir de forma incontrolável. E o amor pode se revelar apenas quando vira ausência.

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