John era um fã fervoroso do Depeche Mode desde 1981. Não era apenas paixão pela música: ele nutria um amor platônico pelo vocalista, Dave Gahan. Tinham praticamente a mesma idade, e John jamais esqueceu o primeiro show a que assistiu — Dave no palco, entoando sem parar “I just can’t get enough”. Aquelas palavras ficaram gravadas em sua mente e em seu coração para sempre.
Desde então, John seguiu a banda como uma sombra. Durante quatro décadas, comprou todos os álbuns, colecionou fotos, recortes, pôsteres, cada detalhe possível. Criou até o próprio fã-clube, embora fosse o único membro. Sempre que podia, viajava para ver o Depeche Mode ao vivo. Cada show era um reencontro íntimo, ainda que unilateral.
Mas o que no início era fascínio, logo se tornou vício. John passou a sonhar com Dave Gahan — sonhos inconfessáveis, intensos, que o acompanhavam noite após noite. Aos poucos, a admiração transformou-se em obsessão.
Em 2017, lá vinha mais uma turnê mundial. John já tinha comprado todos os ingressos possíveis — Londres, Paris, Berlim, até São Paulo. Era como se quisesse percorrer o mundo inteiro atrás da voz que embalara sua juventude e sua solidão.
Quase quarenta anos haviam se passado, mas para John o tempo parecia suspenso toda vez que Dave Gahan entrava no palco. Os cabelos agora eram grisalhos, os traços mais marcados, mas a energia era a mesma. Para John, cada show era um reencontro com a própria história, como se cada acorde de sintetizador fosse um elo entre o passado e o presente.
No entanto, algo mudara. O amor platônico de juventude, aquele arrepio adolescente ao ver o ídolo, tinha se transformado numa espécie de companheirismo silencioso. Dave nunca soubera da existência de John, mas John sentia como se ambos partilhassem uma vida secreta.
Naquele ano, decidiu que não se contentaria mais em ser apenas um rosto anônimo na multidão. I just can’t get enough... Entre um ingresso e outro, começou a escrever cartas. Não eram cartas de fã, mas confissões: lembranças de noites solitárias ouvindo Strangelove, a sensação de ter sobrevivido a crises pessoais embalado por Walking in My Shoes, o desejo não realizado que se misturava a uma devoção quase espiritual.
2023: a Memento Mori Tour é anunciada. John compra ingressos para várias cidades, retomando sua devoção. 6 anos depois Jonh já havia escrito cartas que somavam mais de mil páginas, mas não decidia o que fazer com elas.
E agora, leitor, que final escolheria para essa história de amor?
John não envia as cartas, mergulha cada vez mais fundo em sua devoção. Viaja de cidade em cidade, perde sono, dinheiro e saúde. Nas últimas fileiras de um show, exausto e delirante, sente-se finalmente parte da música. Seu corpo não resiste, mas sua alma parece voar junto com a voz de Dave. Um fim sombrio, que mostra o limite entre amor, fanatismo e loucura.
Nunca as envia. Ao final da vida, as cartas ficam escondidas numa caixa, como um testamento íntimo, sussurros presos no tempo. Talvez um dia alguém encontre. Talvez não. O amor permanece segredo - melancólico, mas eterno.
Um dia, John decide: não vai mais esconder. Reúne todas as cartas e publica um livro, relatando todas as memórias dos shows: I just can’t get enough. Não é apenas um diário de obsessão, mas um livro de confissões, onde paixão se mistura à história da própria banda. Ele não sabe se Dave vai ler, mas as palavras saltam da intimidade para o mundo. O amor platônico se transforma em arte - e John encontra voz além da devoção.
Contra todas as probabilidades, o livro chega às mãos de Dave. Tocado pelas palavras, o cantor pede para conhecer aquele fã fiel. O encontro pode ser apenas um abraço rápido nos bastidores, ou uma longa conversa até o amanhecer. Mas basta um instante: o mito se torna humano, e o amor, enfim, encontra resposta.
Ou, se preferir, conte nos comentários como é o seu final. Mas lembre-se... essas coisas é o coração quem decide.
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