Ele sempre foi fascinado pelo invisível. Não o infinito das estrelas, mas o infinito que cabia na ponta de um alfinete. O mistério escondido entre moléculas, o abismo microscópico onde o olhar humano se desfaz.
Desde menino desmontava brinquedos para ver o que havia dentro. Cresceu, tornou-se engenheiro e físico, e passou a construir microscópios tão potentes que pareciam devorar o próprio conceito de limite. Mas nas horas vagas, continuava com o mesmo passatempo: criava miniaturas. Cidades do tamanho de uma unha, com ruas, árvores e postes de luz. Dizia, meio sério, meio brincando, que um dia moraria nelas.
A obsessão cresceu junto com o silêncio. Enquanto todos olhavam para o espaço, ele mergulhava para dentro. Dizia sempre: “O universo é uma sucessão de interiores”.
Durante décadas aperfeiçoou uma máquina secreta: um dispositivo de compressão quântica capaz de reduzir a matéria sem destruí-la. Um caminho para o infinito mínimo. Antes de ativá-la, porém, fez algo inesperado: entregou sua última maquete a um museu. Era uma cidade microscópica, de um detalhamento impossível. Na base, uma placa com a inscrição: “O universo não está nas estrelas, está nas frestas”.
Ninguém soube explicar como ela foi feita, o grau de precisão era impossível para mãos humanas. No mesmo dia, ele desapareceu. Alguns relatórios científicos (suprimidos, depois vazados) sugerem que a máquina foi ligada naquela noite. Ele realmente fez o experimento em si mesmo, mas nunca voltou pra nos contar.

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