Filho de Oxum e Oxóssi, Logunedé carrega em si o brilho da realeza e a liberdade da floresta. Jovem, belo e encantador, é o Orixá que transita entre o rio e a mata, entre a doçura e a agilidade, entre o mistério e o esplendor.
Apesar de sua aparência juvenil, Logunedé é um senhor de grande sabedoria, que ensina sobre o equilíbrio entre forças aparentemente opostas. Representa a fusão harmoniosa do feminino e do masculino, da introspecção e da ação, da sensibilidade e da precisão. É caçador e pescador, herdeiro do ouro e do axé das águas doces.
Invocar Logunedé é convidar para a vida leveza, beleza, criatividade e conexão com a natureza. Sua força nos inspira a olhar o mundo com novos olhos, a seguir a intuição e a valorizar os instantes de encantamento — aqueles que, por um segundo, abrem portais mágicos dentro do cotidiano.
Origem e Mitologia
Logunedé, também conhecido como Logun Edé, é um dos Orixás mais encantadores e complexos do panteão afro-brasileiro. Filho de dois grandes deuses — Oxum, senhora das águas doces, da fertilidade, da beleza e da riqueza; e Oxóssi, o caçador dos mistérios da floresta, do sustento e da sabedoria instintiva — Logunedé é herdeiro de dois mundos e dois reinos. Essa dupla filiação se reflete diretamente em sua essência: passa metade do ano nos rios, com sua mãe, e a outra metade nas matas, com seu pai, simbolizando a união dos elementos água e terra, emoção e ação, recolhimento e busca.
Desde o nascimento, Logunedé foi cercado de encantamento. Reza a lenda que, por um tempo, foi criado apenas por Oxum, em segredo, para protegê-lo de conflitos entre os Orixás. Quando cresceu, buscou conhecer suas raízes paternas e passou a alternar sua morada entre os domínios dos pais. Essa alternância não é apenas um detalhe do mito, mas uma chave simbólica para compreender sua natureza fluida, adaptável, que se equilibra entre opostos com leveza e beleza.
Logunedé é retratado como um jovem de beleza fulgurante, um verdadeiro príncipe do candomblé e da umbanda. Em algumas tradições, é associado à androginia ou a traços femininos harmonizados com sua força masculina, o que o torna um arquétipo sagrado da pluralidade e da liberdade de expressão do ser. Sua imagem quebra padrões, mistura suavidade e firmeza, encanto e destreza, sendo uma figura que inspira quem busca viver com autenticidade e integrar diferentes partes de si.
Ele é também senhor da fartura, da sensibilidade artística, do olhar atento e da intuição. Conhece tanto os caminhos da mata quanto os segredos das águas, e domina como poucos a arte da caça e da pesca. Em sua juventude luminosa reside a sabedoria ancestral que une mundos e transmuta limites. Logunedé ensina que a verdadeira nobreza está em saber alternar presença e silêncio, força e ternura, instinto e emoção — sem jamais perder o brilho da alma.
Arquétipo e Significados Espirituais
Logunedé é o Orixá da união entre forças que, à primeira vista, parecem opostas: o feminino e o masculino, a mata e o rio, o doce e o selvagem, o encantamento e a luta. Filho de Oxum e Oxóssi, sua personalidade reflete a combinação dessas característicasele. Carrega os dons de ambos — a sensibilidade, a beleza, a diplomacia da mãe e a coragem, a inteligência e a astúcia do pai.
Sua energia representa a transição, a adolescência divina, o momento em que o ser se descobre e se afirma no mundo, aprendendo a navegar entre sentimentos contraditórios com graciosidade e sabedoria. Mas engana-se quem vê Logunedé apenas como um símbolo juvenil. Ele é também senhor da autonomia, da intuição refinada, da beleza consciente, e rege o poder de saber o momento certo de agir, de atacar ou recuar, de seduzir ou observar em silêncio.
Na vida espiritual, Logunedé ensina sobre a arte de ser múltiplo, de habitar diferentes mundos sem perder a essência. Ele nos mostra que é possível encontrar força na delicadeza, autoconhecimento na travessia dos contrastes. É o orixá de quem dança com o tempo e com a própria identidade, e por isso é tão valioso para todos que buscam se reconectar com sua verdadeira natureza — seja ela fluida, em construção ou já amadurecida.
Sua energia desperta em nós a vontade de explorar novos caminhos, de caçar sonhos com precisão, de navegar rios internos em busca de profundidade emocional e espiritual. Ele rege os ciclos da fartura, da beleza e da sabedoria que floresce ao longo da jornada de crescimento e autoafirmação.
Correspondências e Símbolos
Logunedé é o Orixá que habita dois reinos: as matas, domínio de seu pai Oxóssi, e os rios, território de sua mãe Oxum. Essa dualidade se expressa em sua natureza híbrida, que une o encanto da água à astúcia da floresta. Jovem, belo e nobre, Logunedé representa a união entre força e suavidade, agilidade e contemplação, estratégia e sedução.
Seus elementos de poder incluem o arco dourado (ofá), símbolo da caça e da precisão, e o espelho, que reflete não apenas a beleza física, mas também a consciência da própria identidade. Esses objetos evocam sua habilidade de se mover com graça entre os mundos, observando, protegendo e encantando.
Suas cores tradicionais são o azul-turquesa, o verde-claro, o dourado e, em algumas vertentes, o amarelo. Essas tonalidades expressam a leveza da juventude, a prosperidade das águas doces e o brilho encantado que acompanha sua presença.
O dia da semana associado a Logunedé é, em muitas casas, a quinta-feira, embora algumas tradições o celebrem também na terça-feira, em sintonia com os dias consagrados a Oxóssi e Oxum. A diversidade de interpretações reflete a própria fluidez e complexidade do Orixá.
Seus animais simbólicos incluem peixes, aves ornamentais e animais silvestres como o veado — todos expressando sua ligação com a leveza, a liberdade e a intuição caçadora. Como ferramentas, carrega também lanças, flechas e adornos dourados, que traduzem sua origem real e sua vocação para proteger, conquistar e fascinar.
As saudações a Logunedé incluem: “Loci, loci, Logun!” – evocando o espaço sagrado que ele ocupa entre a floresta e o rio. “E akofarê, Akofarê ô!” – exaltando sua destreza com o arco e a lança. Também se entoam expressões como “Erê uá kofá” e “In jô, in jô”, que louvam seu espírito jovem, encantado e protetor.
Na astrologia, Logunedé pode ser associado principalmente a Vênus, pela beleza, encantamento, magnetismo e refinamento que carrega. Também incorpora aspectos de Marte, em sua coragem, destreza e força como jovem caçador. Mercúrio está presente em sua inteligência, vivacidade e habilidade de transitar entre mundos com leveza e articulação. Há ainda nuances de Netuno, pela sensibilidade espiritual e mistério que o envolvem, e de Quíron, como símbolo de união entre opostos — terra e água, ação e sensibilidade. Júpiter, por sua vez, aparece como pano de fundo em sua nobreza, generosidade e presença radiante.
Logunedé é um Orixá que nos convida à harmonia entre opostos — à reconciliação entre razão e emoção, ação e contemplação, juventude e sabedoria. Seu arquétipo ressoa com quem deseja viver com beleza, verdade e leveza, honrando o fluxo natural da vida em todas as suas formas.
Sincretismo e Presença nas Religiões Afro-Brasileiras
Logunedé, apesar de menos difundido em comparação com outros Orixás, ocupa um lugar singular e encantado nos cultos afro-brasileiros, especialmente no Candomblé das nações Ketu e Jeje-Nagô. Sua presença é reverenciada com profundo carinho, quase como um segredo guardado entre iniciados, já que ele manifesta-se de maneira mais discreta, mas extremamente poderosa.
No sincretismo religioso — fruto do processo colonial e da imposição do catolicismo — Logunedé foi associado a São Miguel Arcanjo, especialmente nas regiões em que sua força guerreira se destaca. Em outras tradições, também pode ser relacionado a São Expedito, pela juventude, agilidade e pelo papel de defensor. No entanto, como muitos Orixás que não se encaixaram plenamente nas imagens católicas mais conhecidas, Logunedé manteve certo mistério e resguardo em sua expressão devocional.
Nos terreiros de Candomblé, ele costuma ser cultuado de forma alternada: seis meses como Oxóssi e seis meses como Oxum, refletindo sua natureza dupla e seu trânsito simbólico entre os reinos masculino e feminino, entre a mata e as águas doces. Isso não significa mudança de identidade, mas sim a revelação de aspectos complementares da mesma essência divina.
Na Umbanda, sua figura é mais rara, embora algumas vertentes que preservam os fundamentos nagôs possam reconhecê-lo ou manifestá-lo através de linhas que misturam juventude, fartura, proteção e encantamento — muitas vezes próximas à linha das crianças (Erês) ou das águas.
Logunedé inspira especialmente aqueles que estão em transição: jovens em amadurecimento, pessoas em busca de equilíbrio entre força e suavidade, e todos que precisam resgatar o encanto da vida sem perder o foco e a clareza do propósito. Sua força auxilia em processos de reconciliação interior, cura de feridas ligadas à identidade e à autoestima, além de fortalecer talentos criativos e caminhos de abundância.
Oração a Logunedé
Logunedé, príncipe encantado das matas e dos rios,
filho da doçura de Oxum e da precisão de Oxóssi,
ensina-me a caminhar com leveza e coragem,
a unir beleza e bravura no meu viver.
Tu que conheces os caminhos ocultos da floresta
e as correntezas profundas dos rios,
guia meus passos com tua sabedoria,
protege-me com tua flecha certeira
e banha minha alma com tua luz dourada.
Que eu saiba reconhecer minha própria nobreza,
e jamais me esqueça do encanto que carrego.
Que o equilíbrio entre ação e sensibilidade
me conduza ao meu verdadeiro destino.
Logunedé, jovem rei da dualidade sagrada,
em ti repousa o mistério da juventude eterna.
Recebe minha prece e minha gratidão.
Loci, loci Logun! Akofarê ô!
Conclusão
Logunedé é o Orixá que nos convida a integrar opostos — força e delicadeza, ação e contemplação, natureza selvagem e encanto refinado. Sua energia é fluida, encantadora, surpreendente. Jovem e sábio, caçador e pescador, filho de Oxóssi e Oxum, ele nos ensina que não precisamos escolher entre mundos aparentemente contraditórios: podemos habitá-los com beleza, coragem e inteligência.Ao cultuar Logunedé, entramos em contato com o encanto da vida, com a leveza que não exclui a profundidade. Ele mostra que é possível viver com propósito e sensibilidade, expressar-se com verdade sem abrir mão da elegância, caminhar com firmeza sem perder o brilho no olhar.
Sua presença nos lembra que toda jornada precisa de encanto, de movimento, de lucidez e de coração. Que sua flecha nos aponte sempre a direção da alma, e que seu espelho nos ajude a reconhecer a beleza que carregamos.
Loci, loci, Logun!
Este post faz parte da série especial sobre os Orixás. Veja aqui Ogum, Oxum, Xangô, Iansã, Oxóssi, Iemanjá, Obaluayê/Omulu, Nanã, Oxalá e Exú. Em breve traremos outros textos dedicados a Obá, Ossaim e muito mais, sempre com respeito, profundidade e conexão espiritual.
Conheça meus eBooks
Se você se interessa por espiritualidade, astrologia e autoconhecimento, convido você a explorar os eBooks disponíveis para download aqui no blog. Cada material foi criado com carinho e profundidade, como ferramentas para apoiar sua jornada de expansão, clareza e reconexão com seu propósito. 👉 Clique aqui para acessar os eBooks e escolher o que mais ressoa com seu momento.
(As ilustrações estão com créditos, exceto as que não encontrei o autor ou foram criadas com I.A.)
Postar um comentário
Os comentários são o maior estímulo pra este trabalho. Obrigado!