
Este artigo foi originalmente publicado em 2009, quando eu ainda começava a explorar com mais profundidade o simbolismo de Quíron. Na época, eu não imaginava que, anos depois, escreveria um livro inteiro sobre esse arquétipo tão complexo e transformador. Revisito agora esse conteúdo com novos olhares, mais maturidade e o desejo de compartilhar o que aprendi ao longo do tempo — tanto nas consultas astrológicas quanto na própria vivência pessoal.
Quíron, conhecido como o Curador Ferido, é um ponto do mapa que nos fala de uma dor existencial — uma ferida difícil de cicatrizar, mas que, ao ser compreendida, pode se transformar em potência, sabedoria e serviço ao outro. A seguir, você encontrará uma visão atualizada sobre esse tema, com a profundidade que ele merece.
A Descoberta de Quíron e Seu Significado Astrológico
Em 1977, astrônomos identificaram um pequeno corpo celeste em órbita entre Saturno e Urano. Esse novo planetóide foi batizado de Quíron. Na astrologia, a descoberta de um novo astro sempre sinaliza uma mudança na consciência coletiva, refletindo transformações históricas e psíquicas significativas. Urano, por exemplo, foi descoberto em 1781, durante uma era marcada por revoluções e lutas por liberdade. Netuno surgiu em 1846, em meio ao florescimento do Romantismo e do espiritualismo. Plutão, localizado em 1930, coincidiu com o surgimento da psicanálise, do fascismo e das grandes crises de poder.
Para entender o simbolismo de Quíron na astrologia, é necessário recorrer à mitologia. Segundo a lenda, Quíron é filho de Saturno com Filira, uma ninfa do mar. Quando Réa, esposa de Saturno, flagrou o adultério, o deus se transformou em um cavalo para fugir. Dessa união nasceu Quíron, o primeiro centauro — metade homem, metade cavalo. Rejeitado pela mãe, que implorou aos deuses para não criar um filho considerado monstruoso, Quíron foi abandonado. Os deuses atenderam ao pedido transformando Filira em uma árvore. A história já introduz o tema central de Quíron: o abandono, a ferida e a rejeição, que marcam sua origem e se desdobram em seu papel arquetípico.
A Ferida Arquetípica e a Sabedoria do Curador
A primeira mágoa de Quíron é a rejeição da mãe, e onde quer que Quíron se encontre num mapa, esta é a área onde podemos ser mais sensíveis às rejeições. Representa a “saída do Paraíso”, que todos vivemos quando somos retirados do útero para a dura realidade do mundo. No corpo físico separado e distinto, perdemos o sentido de unidade com toda a vida. Quíron era parte divino e parte animal, nós também o somos. Seu posicionamento também mostra onde sentimos mais sutilmente o conflito entre os desejos do nosso físico e algo mais transcendente, puro e divino.
Educado por deuses, Quíron cresceu para ser sábio. Seu lado animal deu-lhe sabedoria terrena e proximidade com a natureza. Podemos dizer que era um xamã, um sábio curador, bem versado nas propriedades medicinais de várias ervas. Mas também estudou música, ética, caça e astrologia. Histórias sobre sua grande sabedoria se espalharam, deuses e nobres mortais levaram seus filhos para serem educados por ele. Tornou-se uma espécie de pai adotivo e mestre de Jasão, Hércules e Aquiles, entre outros. As matérias que mais ensinava eram o bem-estar e a cura, pois estava familiarizado em como criar e curar feridas.
A Ferida Incurável e o Dom de Curar os Outros
Hércules feriu acidentalmente o joelho de Quíron com uma seta envenenada. O veneno era da tenebrosa Hidra e fez uma ferida incurável até mesmo para a medicina de Quíron. Fenômeno curioso: o grande médico sofrendo com uma ferida que não podia ser curada. Essa é sua qualidade mais importante: a posição de Quíron no mapa nos mostra onde fomos feridos de algum modo e, através desta experiência, obtemos sensibilidade e autoconhecimento para entender e ajudar melhor os outros. Quíron foi associado com o nascimento do interesse popular pela psicoterapia, ao processo de trazer feridas psicológicas à superfície para serem curadas. Na verdade, Quíron aparece num forte posicionamento nos mapas de muitos curadores e terapeutas. Os melhores terapeutas não são aqueles que conhecem bem suas próprias imperfeições?
Quíron preparava as pessoas para serem heróis. Seus pupilos estavam aptos a sobreviver no mundo, mas eram também nobres, capazes de feitos e proezas a serviço de seus países ou de um todo maior. A sua localização no mapa não só é capaz de indicar onde podemos ensinar os outros, mas também onde nosso potencial heróico pode manifestar-se. A área onde podemos ir além do normal, sem perder o contato com a vida real. Podemos ser intuitivos, inventivos e também ter os pés bem postos no chão. Dale O'Brien diz que trânsitos críticos de Quíron indicam quando e como um indivíduo é desafiado a crescer sobre a adversidade ou mediocridade que cercam a sua vida e a perceber um destino maior envolvendo-o.
A Redenção de Quíron e a Sabedoria Integrada
Como prêmio por todos os serviços prestados, Quíron recebeu o dom divino da imortalidade. Mas estava numa posição muito estranha: não podia curar sua ferida nem morrer. Qual a solução? Prometeu, que roubou o fogo dos deuses e foi banido para os mundos inferiores, seria libertado se alguém ficasse no seu lugar. Quíron, não querendo mais ser imortal, concordou em trocar de lugar com Prometeu. Eis a fusão de dois tipos de sabedoria: Quíron pegou a sabedoria terrena e a usou para propósitos mais elevados, enquanto Prometeu tirou o fogo dos deuses, símbolo da criatividade, e o trouxe para a Terra. Nosso desafio é integrar a visão espiritual do fogo criativo com a técnica e o senso prático.
A atitude de Quíron com relação à morte e seu entendimento acerca da saúde, da cura e da educação são os sinais dos nossos tempos. Quando a humanidade desperta para sua essência divina, para a busca do autoconhecimento e expansão da consciência a fim de promover a cura individual e planetária.
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Depois de muitos anos estudando esse arquétipo e acompanhando sua atuação em centenas de mapas, publiquei um livro inteiramente dedicado a ele: QUÍRON - A PONTE ENTRE O CÉU E A TERRA pela Editora Alfabeto. Para quem deseja entender Quíron com profundidade — o signo, a casa, os aspectos, os trânsitos, sua mitologia e sua função terapêutica —, o conteúdo está todo lá. Incluí também exemplos práticos com mapas analisados, para que você possa aplicar o conhecimento diretamente na interpretação.
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Valeu Marcelo, sempre uma luz para nossa reflexão...
ResponderExcluirObrigado.
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