O Princípio Feminino.
A Mãe Primordial.
A Deusa da Fertilidade.
As Virgens Negras são símbolos do Matriarcado. Sua cor negra remete a cultos muito antigos — até mesmo pré-históricos — ligados à fertilidade, à fecundidade da terra, ao escuro da noite, ao útero, à Mãe Terra, à Deusa Mãe.
Uma das mais antigas estatuetas representa Madona com seu filho divino, ambos com cabeça de cobra. Sua ligação com os animais era evidente. Em baixos-relevos cravados na rocha ou em pequenas estátuas, Ela aparece cercada de leões, pássaros, serpentes, leopardos, touros e peixes. O Ovo Cósmico, os círculos concêntricos, as imagens de mulheres avantajadas com seios, nádegas e barriga protuberantes, traziam este poder: nádegas para parir, barriga para gerar, seios para nutrir.
As antigas imagens das Virgens Negras são registros valiosos de uma época em que a Terra era reverenciada como Mãe, e todas as criaturas eram Seus filhos. Era conhecida, adorada e reverenciada em cultos célticos e em cultos ainda mais antigos. Na Suméria, aparece como Inanna, de dupla personalidade: de dia, a Senhora das Batalhas; à noite, a Deusa da Fertilidade, dos prazeres e do amor.
Na Babilônia, Ela é Isthar. Entre os hebreus, Astarte. Na Frígia, Cibele. No Egito, Ísis. Na Grécia, a Mãe Animal que — como cabra, porca ou vaca — alimenta o pequeno Zeus. A Deusa de Creta, Deméter, é Senhora do Mundo Inferior, das profundezas da Terra e da Morte. Seu ventre terreno é também o ventre da fertilidade, de onde emana a vida.
Harmonizar os opostos — vida e morte, masculino e feminino — é a principal Força da Madona Negra. Ela é o Negro da Luz. A cor negra evoca o mistério impenetrável da Fonte Criadora. Ísis e Shekiná são cobertas por mantos pretos. Cibele era venerada como uma pedra negra. Deméter e Atena tinham versões escuras. E a belíssima estátua de Ártemis de Éfeso, a Mãe dos mil seios, era negra. Como doadora da vida, Ela é o útero eterno. É também o Orixá Oxum, Senhora das Águas — o sangue da Terra.
Seu culto foi difundido por todo o Império Romano, posteriormente associado às imagens marianas do Cristianismo. Nos primórdios da religião cristã, o princípio feminino era representado por Virgens Negras e Brancas e por uma multidão de santas — todas brancas, com exceção de Sara, a Egípcia, padroeira dos ciganos. Com o avanço do Cristianismo, estátuas de mármore e bronze das antigas deusas foram destruídas. Seu culto, perseguido e proibido.
Mas, em lugares remotos, fiéis dos antigos cultos preservaram as pequenas estátuas, escondendo-as em grutas, criptas, fontes, rios e ocos de árvores. Algumas “apareceram” de maneira milagrosa, encontradas por pessoas humildes, animais ou crianças. Outras foram destruídas por fanatismo ou guerra. Ainda assim, influenciaram gerações posteriores de escultores religiosos que continuaram a retratá-las com trajes cristãos, mas mantendo a cor negra.
Nos séculos VII e VIII, estátuas antigas chegaram à Europa trazidas do Oriente Médio pelos Cruzados. Na Idade Média, os altares dedicados à Virgem Negra eram os mais procurados e venerados. O culto popular à Mãe Divina não podia ser apagado. Era uma sabedoria própria — viva, livre, ancestral — que não se submetia a leis ou instituições.
A partir do século X, o culto às Mães Negras cresceu a ponto de suplantar o culto ao Pai e ao Filho. Reis, guerreiros, camponeses, mulheres e doentes ajoelhavam-se diante das imagens das Virgens milagrosas. Curas, milagres e aparições eram frequentes. A Virgem Negra tornou-se tema central na literatura mística e alquímica dos séculos XII e XIII. Inspirou a construção de catedrais, igrejas e romarias por toda a Europa.
Buscando negar o simbolismo da cor negra, surgiram explicações como a fuligem das velas ou a oxidação dos pigmentos. Mas era necessário ocultar o verdadeiro sentido: o negro como atributo milenar da terra, do inconsciente, do feminino sagrado, da sabedoria que aceita a morte como parte da vida.
O culto da Virgem Negra perpetuava o princípio feminino numa cultura patriarcal e misógina. Por isso, foi perseguido, desacreditado. Ainda assim, sobreviveu. Nem a Inquisição, nem a Reforma, nem a Razão científica apagaram sua presença. No século XIX e XX, novas aparições marianas reanimaram sua força. O inconsciente coletivo voltou-se à Mãe, buscando conciliar sexualidade e espiritualidade, razão e intuição.
Algumas Virgens Negras tornaram-se padroeiras nacionais, como Nossa Senhora de Guadalupe (México) e Czestochowa (Polônia). Na França, Sara Kali é celebrada por ciganos e devotos com missas e oferendas no mar.
E no Brasil, temos Nossa Senhora Aparecida, achada em 1717 nas águas do rio Paraíba, São Paulo. Uma pequena imagem negra, sustentada sobre a Lua crescente. No local, surgiu uma cidade-santuário que hoje acolhe peregrinos de todo o país e do exterior.
Apesar da diversidade de nomes e histórias, todas evocam a Grande Mãe. Evocam a Terra, o sangue, o ventre, o amor, a sabedoria, a regeneração. São portadoras do axé ancestral das deusas telúricas — Senhoras da vida, da morte e da cura.
Ela é consolo e refúgio. Aparece onde há dor, exclusão, silêncio. Cura, acolhe, desperta. Seu coração é o próprio Cosmos.
Sua presença em sonhos, visões e terapias das mulheres contemporâneas é um chamado. Um convite para o resgate do Feminino Sagrado. Um lembrete urgente da importância da Terra, da diversidade, da parceria, da inclusão.
A sobrevivência da humanidade depende da nossa capacidade de reconhecer e honrar essa luz.
A Madona Negra chega nas visões xamânicas, no som do tambor, nos sonhos das mulheres que despertam. Ela abre os corações e sussurra: Fecunda. Cria. Sente. Cura. Ama.
Salve Madona Negra!
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Oi Marcelo, você não me conhece,mas cheguei até vc pelo site da Titi Vidal. Desde então sou sua fã. Seu blog é lindíssimo. Seu trabalho inspirador, divino mesmo. Seus comentários super demais. Adorei o vídeo, assisti quase agora. Vc é muito gracinha mesmo. A Luana chama vc de coração, e é isso mesmo o que vc passa; Coração. beijos sucesso e continue a nos brindar com tanto coração nas palavras e palavras no coração, fernanda carvalho
ResponderExcluirOlá Fernanda!!! Fico muito muito muito feliz com suas palavras. São de apoio e incentivo pro meu trabalho! Seja sempre bem vinda aqui no blog, que é minha casa virtual. Estamos em sintonia!!!!
ResponderExcluirBjo
Namastê!!
Nossa! Eu não tenho palavras para comentar, apenas agradeço por ter chego aqui e ter conhecido um pouco mais sobre o Sagrado Feminino! Gratidão!
ResponderExcluirQuero fazer essa vivência. Tem previsão pra esse ano?
ResponderExcluirParabéns pelo texto sobre as Madonas Negras! Compartilhado com muito respeito e admiração! Fazemos Círculos de Mulheres em nosso sítio na Serra Carioca. E este mês vamos honrar a Madona Negra Brasileira e todas as demais. Vamos usar seu texto para dimensionar as mulheres sobre o tema. Gratidão !
ResponderExcluirIrei compartilhar a publicação é um achado mediante a pandemia todos deveriam saber que a cura vem da terra.
ResponderExcluirA mãe sagrada.
Estou certa que o universo me trouxe até aqui. Que introdução de si belíssima, conectei-me pois estou no momento de conquistar alianças, fazer amizades e formar parcerias em todos os planos, minha alma também tem portas largas e abraça a expansão. Gratidão pelo momento.
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