
O cavalo alado e sua inspiração eterna
Entre os muitos arquétipos da mitologia, poucos despertam tanto fascínio quanto Pégaso, o cavalo alado. Se o cavalo comum representa a força instintiva e a impetuosidade dos desejos, Pégaso simboliza a possibilidade de elevar essas energias, sublimando-as em criatividade, liberdade e inspiração espiritual. Não se trata apenas de um animal mítico, mas de um emblema universal da imaginação que ganha asas e transcende o limite terreno.
Já escrevi em outro post sobre o simbolismo do cavalo, do unicórnio e do cavalo alado em geral. Mas aqui o foco é diferente: vamos mergulhar no mito específico de Pégaso, suas origens, suas lendas e sua presença no céu noturno. Mais do que um simples personagem das histórias gregas, Pégaso tornou-se símbolo eterno de elevação, de força criadora e da ligação entre o mundo humano e o divino.
Origem de Pégaso: do sangue da Medusa
Na mitologia grega, Pégaso nasce de uma cena marcada pela tensão entre luz e sombra. Quando o herói Perseu decapita a terrível Medusa, de seu sangue derramado surge o cavalo alado, trazendo à vida uma criatura sublime a partir de uma força considerada monstruosa. Esse detalhe já carrega um simbolismo profundo: do que é sombrio e temido pode emergir algo grandioso, uma potência criadora que transcende a destruição (leia mais sobre Medusa aqui).
Pégaso representa justamente essa alquimia: transformar a energia instintiva e caótica em movimento ascendente. É a imagem do espírito que encontra asas no momento em que enfrenta seus próprios monstros interiores. Não é por acaso que Atena, deusa da sabedoria, intervém para domar e consagrar Pégaso, oferecendo-o a Belerofonte. Sob a orientação da deusa, o cavalo deixa de ser apenas uma criatura nascida do sangue e da violência, e passa a ser um instrumento de inspiração e coragem.
Belerofonte e a Quimera
Depois de ser domado por Atena, Pégaso foi entregue ao herói Belerofonte. A união entre os dois resultou em uma das façanhas mais memoráveis da mitologia: o combate contra a Quimera, criatura monstruosa formada por partes de leão, cabra e serpente, que espalhava terror e destruição.
Montado em Pégaso, Belerofonte pôde enfrentar o inimigo de um ponto de vista superior, atacando a fera de cima, em pleno voo. Esse detalhe não é apenas um recurso narrativo, mas uma metáfora clara: só ao elevar-se acima dos próprios medos e instintos é possível superar os monstros interiores. A vitória contra a Quimera, portanto, não fala apenas de coragem física, mas da capacidade de sublimar forças densas e redirecioná-las para o bem.
Nesse mito, Pégaso não é um simples auxiliar. Ele é o veículo que conduz o herói ao nível necessário para a vitória, mostrando que a verdadeira conquista acontece quando a energia instintiva é guiada pela sabedoria e pela visão elevada.
Pégaso e as Musas: a fonte Hipocrene
Entre as muitas histórias ligadas a Pégaso, uma das mais belas é a de seu encontro com as Musas. Conta-se que, ao tocar o solo do Monte Hélicon com um poderoso coice, o cavalo alado fez brotar a fonte de Hipocrene — considerada a nascente sagrada da poesia e da inspiração artística.
Desde então, poetas e músicos passaram a ver nessa fonte o símbolo da criatividade que jorra quando o espírito se abre ao sagrado. Pégaso torna-se, assim, mais do que um animal mítico: ele é o arquétipo do impulso que liga o humano ao divino, conduzindo a imaginação a territórios mais elevados.
O cavalo, que já era símbolo de força e vitalidade, ganha em Pégaso uma dimensão transcendente. Ele deixa de ser apenas veículo terrestre para tornar-se ponte entre mundos, transportando a alma criadora do plano material ao espiritual. Por isso, seu mito é inseparável da ideia de inspiração: é ele quem abre o caminho para que as Musas concedam seu dom aos que ousam beber da fonte.
Pégaso no simbolismo espiritual
Ao longo do tempo, Pégaso deixou de ser apenas um personagem da mitologia grega e passou a representar um arquétipo universal. Como já disse, o cavalo comum é associado à força instintiva, ao ímpeto e aos desejos. Já o cavalo alado simboliza a sublimação dessas energias, transformando o instinto bruto em potência criadora. Pégaso é, portanto, a imagem da imaginação que encontra asas, a força vital que se torna inspiração e arte.
Nas lendas medievais, surge uma figura semelhante: o hipogrifo, mistura de cavalo com águia. Ele é descrito como símbolo do poder inato de transformar o mal em bem, ampliando o mesmo sentido de elevação e transcendência. Essas imagens revelam a persistência de um tema comum em diferentes épocas: a necessidade de domar a energia selvagem para convertê-la em algo nobre e espiritual.
O poeta alemão Heinrich Heine captou bem esse espírito ao escrever sobre seu Pégaso: “Meu Pégaso, não obedece senão a seu capricho, seja no galope, seja no trote, ou no vôo ao reino das fábulas. Não é uma égua virtuosa e útil da estrebaria burguesa, menos ainda um cavalo de batalha que sabe bater a poeira e relinchar pateticamente no combate dos partidos. Não! Os pés de meu corcel alado são ferrados com ouro, suas rédeas são colares de pérolas e eu as deixo flutuar alegremente.”
A descrição sublinha o caráter livre e indomável de Pégaso, que não se presta ao trabalho rotineiro, mas à criação e ao voo rumo ao imaginário.
A Constelação de Pégaso
O mito de Pégaso não permaneceu apenas nas histórias contadas pelos gregos. Ele foi inscrito no próprio céu, na forma de uma das maiores constelações do hemisfério norte. Reconhecida desde a Antiguidade, a figura do cavalo alado é facilmente identificada pelo famoso Grande Quadrado de Pégaso, formado por quatro estrelas brilhantes que desenham o corpo do animal.
Localizada próxima às constelações de Andrômeda, Aquário e Peixes, Pégaso ocupa uma posição de destaque no firmamento. Sua imagem evoca a mesma mensagem do mito: a ligação entre o terreno e o celestial, entre o esforço humano e a inspiração que vem do alto. Ao olhar para suas estrelas, gerações inteiras encontraram não apenas referências astronômicas, mas também reflexos de seus próprios sonhos e narrativas interiores.
As Estrelas de Pégaso
A constelação de Pégaso é marcada por estrelas que carregam significados ambíguos, como se refletissem a própria natureza do cavalo alado: força instintiva que pode ser sublimada em inspiração ou dispersar-se em riscos. Cada uma delas oferece tanto um aspecto luminoso quanto uma face sombria, lembrando que a energia criadora precisa ser conduzida com consciência.
Markab (23° Peixes)
Situada no ombro do cavalo, Markab simboliza disciplina e firmeza.
- Luz: traz estabilidade, capacidade de estruturar ideias e dar forma concreta à inspiração. Pode oferecer honra e clareza de propósito.
- Sombra: quando mal integrada, gera pressa, impulsividade e riscos ligados a acidentes ou violência.
Scheat (29° Peixes)
Uma estrela variável, no ombro ou perna do cavalo, associada à imaginação intensa.
- Luz: é fonte de criatividade poética, sensibilidade para mergulhar no inconsciente e transformar emoções em arte.
- Sombra: carrega instabilidade emocional e perigos ligados a afogamentos, tanto literais quanto simbólicos — o excesso de emoção que sufoca e paralisa.
Algenib (09° Áries)
Localizada no flanco do cavalo, carrega a chama da coragem e da ousadia.
- Luz: oferece impulso heroico, determinação para enfrentar monstros interiores e a força de abrir novos caminhos.
- Sombra: pode gerar notoriedade acompanhada de desonra, explosões de violência ou quedas provocadas por orgulho e imprudência.
Enif (aprox. 28° Peixes)
A estrela mais brilhante de Pégaso, situada no focinho do cavalo.
- Luz: simboliza o sopro da inspiração artística, a voz que guia e orienta pela imaginação criadora. É brilho que conduz o voo.
- Sombra: quando mal canalizada, leva a exageros, dramatização excessiva e orgulho criativo que perde direção, transformando asas em peso.
Essas estrelas mostram que a constelação de Pégaso é, ao mesmo tempo, um mapa de potenciais e de provações. O mesmo impulso que pode elevar à criação sublime também pode arrastar para excessos e instabilidades, caso não seja conduzido com equilíbrio.

Nota para estudantes de astrologia
As estrelas fixas podem ser analisadas em mapas natais quando estão em conjunção próxima (até 1° a 2°) a planetas, ângulos ou pontos importantes. Se você tem algo em torno de 23° ou 29° de Peixes, 9° de Áries ou 28° de Peixes, pode sentir com mais intensidade a influência das estrelas de Pégaso.Para uma leitura ainda mais aprofundada, recomenda-se verificar os parans — relações entre estrelas e planetas que nascem, culminam ou se põem ao mesmo tempo. Esse método, usado em astrologia estelar, mostra como a energia das estrelas se entrelaça com o fluxo de vida individual.
Conclusão
O mito de Pégaso continua vivo porque fala de algo essencial: a capacidade humana de transformar forças instintivas em asas para a imaginação. Nascido do sangue da Medusa, o cavalo alado mostra que até das origens mais densas pode brotar um impulso de beleza, coragem e criação.
Elevado ao céu na forma de constelação, Pégaso permanece como guia simbólico e espiritual. Suas estrelas recordam que toda energia traz duas faces: luz e sombra, inspiração e risco, voo e queda. Cabe a nós escolher se seremos arrastados pelos excessos ou se encontraremos disciplina para transformar esse poder em arte, espiritualidade e realização.
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Muito Lindo!
ResponderExcluirGrato por partilhar.
Will
Amei!
ResponderExcluirMuito bom. Gratidão por compartilhar.
ResponderExcluirGrata pela partilha!
ResponderExcluirCoisa mais linda! Pura poesia magnífica! Gratidão! ♡♡♡
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