As Causas do Sofrimento, Segundo a Filosofia Budista



Meu contato com o budismo começou no final dos anos 1990, quando frequentei um centro budista no bairro do Sumaré, em São Paulo. Foi lá que conheci Lama Michel, então um jovem de apenas 14 anos, reconhecido como a reencarnação de um grande mestre. Aquele ambiente, cheio de ensinamentos, mantras e serenidade, me despertou para uma nova forma de compreender a vida.

Mais tarde, tive a oportunidade de conhecer também Lama Gangchen Rimpoche, assistir a diversas palestras e mergulhar nas leituras de laguns livros. Aprendi que o sofrimento, tão comum a todos nós, não é castigo nem acaso: é um reflexo das próprias atitudes da mente.

A sabedoria budista ensina que reconhecer as causas do sofrimento é o primeiro passo para superá-lo. Ao cultivar consciência, podemos viver com mais serenidade e compaixão.

Os Três Venenos da Mente

A filosofia budista ensina que o sofrimento humano nasce de três causas principais, conhecidas como os três venenos da mente: o apego, a ignorância e a aversão. Esses estados mentais distorcem a percepção e nos afastam da serenidade natural. Quando estão ativos, a mente perde o equilíbrio, e a vida passa a ser guiada pelo desejo, pelo medo ou pela rejeição.

Ao compreender esses três movimentos e observar como eles se manifestam em nossos pensamentos e atitudes, começamos a dissolver suas causas. A seguir, uma reflexão sobre cada um deles.

O Apego e a Ilusão de Controle

O apego é talvez o mais persistente dos venenos mentais. Ele nasce do desejo de reter o que é impermanente (pessoas, situações, bens ou identidades) e da crença ilusória de que podemos controlar o fluxo da vida. A mente apegada busca segurança em um mundo que, por natureza, está sempre mudando. O resultado é previsível: quanto mais tentamos segurar, mais sofremos quando a vida se move.

Essa tendência aparece com força nos períodos em que Plutão, na astrologia, forma trânsitos desafiadores em nossos mapas. Plutão simboliza os processos de morte e renascimento, o desmantelamento do que é falso e o convite ao desapego profundo. Ele nos empurra a abandonar velhas estruturas, máscaras e apegos que já não servem mais à alma. E quanto mais resistimos, maior o sofrimento.

Sofremos na medida exata do nosso apego. Quando aceitamos que nada é permanente, a dor se transforma em libertação. O apego quer possuir; o amor quer permitir. O primeiro nasce do medo de perder, o segundo da confiança no fluxo da existência. Quando aprendemos a confiar, deixamos de lutar contra a corrente e passamos a fluir com ela... e o sofrimento começa a se dissolver.

A Ignorância e o Esquecimento da Lei de Causa e Efeito

No ensinamento budista, a ignorância é a raiz do sofrimento. Não se trata da falta de conhecimento intelectual, mas da cegueira espiritual, o esquecimento das leis que regem a vida. Quando ignoramos a interdependência entre todas as coisas e a relação entre causa e efeito, vivemos desconectados do sentido maior da existência.

Essa ignorância se manifesta no dogmatismo, nas crenças rígidas e na resistência a enxergar além do próprio ponto de vista. É a mente fechada que confunde fé com certeza, e conhecimento com verdade.
Na astrologia, esse tema encontra ressonância, por exemplo, na Casa 9, em Júpiter e no signo de Sagitário — símbolos da expansão da consciência, da sabedoria e da visão espiritual. Quando essas energias estão bloqueadas, surgem posturas moralistas, arrogância intelectual e fanatismo. Quando estão integradas, abrem caminho para a verdadeira compreensão: aquela que une discernimento e compaixão.

Buscar sabedoria é o antídoto natural contra a ignorância. É questionar, estudar, observar, e sobretudo, experimentar a vida com consciência. A lei de causa e efeito (conhecida no Oriente como carma) não é uma punição, mas um reflexo exato da energia que emitimos. Cada pensamento e ação deixa uma marca, e compreender isso nos torna responsáveis pela própria jornada.

A ignorância é o esquecimento de quem realmente somos; a sabedoria é a lembrança. E é nesse movimento de recordar-se (através do estudo, da reflexão e da prática espiritual) que o sofrimento começa a perder sua força.

A Aversão e o Veneno da Reatividade

A aversão é a tendência de rejeitar o que nos desagrada ou contraria nossas expectativas. Surge da mesma ilusão que sustenta o apego: a de que podemos controlar a vida e moldá-la conforme nossos desejos. Quando algo foge ao que idealizamos, reagimos com irritação, impaciência, raiva ou ressentimento. É uma reação instintiva, um movimento de defesa do ego diante do desconforto.

No entanto, o que chamamos de “mal” ou “erro” costuma ser apenas o reflexo de uma parte de nós que ainda não compreendemos. A mente reativa vê inimigos e obstáculos onde há apenas espelhos. Aversão e raiva são formas de resistência ao aprendizado.

Na astrologia, esses impulsos se manifestam com frequência através de Marte, planeta das ações e dos instintos, e também em certos trânsitos de Urano, que nos confrontam com o inesperado. Quando essas forças estão em desequilíbrio, reagimos por impulso, movidos pelo desejo de provar algo ou de eliminar o que nos ameaça. Quando estão integradas, nos tornam corajosos, autênticos e capazes de agir com clareza, sem perder o centro.

A reatividade é um fogo que consome energia vital. A consciência, por outro lado, é o fogo que ilumina. Quando aprendemos a observar a raiva antes de agir, o que antes era destrutivo se transforma em força criativa. É assim que o guerreiro interior se fortalece: não ao eliminar o conflito, mas ao transmutá-lo em sabedoria e ação consciente.

A Superação do Sofrimento e o Caminho da Consciência

Ignorar a lei de causa e efeito é viver inconscientemente. Quando não percebemos que o sofrimento nasce de atitudes e pensamentos desequilibrados, perdemos o poder de transformação. A consciência dessa lei é libertadora porque devolve ao ser humano a responsabilidade sobre a própria felicidade.

A mente indisciplinada cria turbulência, enquanto a mente treinada gera paz. A meditação é uma das práticas mais eficazes para observar e compreender o próprio funcionamento mental. Ao silenciar o ruído interno, aprendemos a não reagir por impulso e a reconhecer que todo sofrimento é uma oportunidade de aprendizado.

Todas as criaturas buscam a felicidade e evitam a dor, mas o ser humano tem algo que o diferencia: a capacidade de discernimento. Nosso intelecto permite distinguir o que nos eleva daquilo que nos aprisiona, e escolher conscientemente as ações que geram harmonia. A felicidade não acontece por acaso; é fruto de atitudes coerentes com as leis universais.

Os grandes mestres espirituais sempre apontaram esse mesmo caminho. Buda, Cristo e tantos outros ensinaram que a libertação nasce do controle da mente, do cultivo da compaixão e da prática diária da virtude. Esses ensinamentos são sementes vivas: quando colocadas em ação, germinam lentamente e transformam o modo como percebemos o mundo.

Superar o sofrimento não é escapar da dor, mas compreendê-la. Quando a consciência desperta, a dor se torna mestra, e cada experiência (agradável ou não) passa a revelar a sabedoria do próprio caminho.

Conclusão

Os ensinamentos espirituais são como sementes: contêm em si todo o potencial de transformação, mas precisam ser cultivados com paciência e prática constante. Não podemos colher frutos de sabedoria se não estivermos dispostos a preparar o solo, plantar, regar e cuidar da árvore que cresce.

Do mesmo modo, o aprendizado sobre as causas do sofrimento só produz resultados quando é vivido no cotidiano — nas escolhas, nas relações, nas reações silenciosas da mente.
Cada ato consciente, cada esforço por manter a mente desperta, fortalece as raízes da paz interior.

Com o tempo, essas sementes brotam naturalmente em atitudes mais compassivas, serenas e equilibradas. E o que antes era dor se transforma em compreensão. O que antes parecia obstáculo se revela como parte do caminho.

“O pensamento é a única força que dá vida ou a destrói, dependendo de como é dirigido, se para o bem ou para o mal”. Prentice Mulford

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7 Comentários

Os comentários são o maior estímulo pra este trabalho. Obrigado!

  1. absolutamente arrebatador. sublime. vc está num caminho ascendente impressionante.~~

    Hoje não lhe envio um abraço, mas sim um beijo.

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  2. Querido amigo!!!!
    Fiquei emocionado com seu comentário. Estou mais feliz, de fato. Isso é um bom sinal né? :)))
    Retorno o beijo com o chacra cardíaco expandido!!!!

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  3. Adorei ler o seu post.
    Obrigada por palavras tão esclarecedoras.
    Abraço:)
    Janice

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  4. Muito bom Marcelo!
    Já li alguns textos sobre isso e acho que o mais difícil pra mim é o apego. Sou muito apegada a meus cachorros por exemplo e a simples idéia que eles não serão eternos não pode nem surgir na minha mente que já dói muito que tiro na hora.
    A lei da causa e efeito já está muito bem internalizada e não sou de guarda rancor, muito pelo contrário, esqueço totalmente.
    Mas, vamos tentando...
    O seu texto é excelente.Parabéns!
    Beijos

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  5. Saudades daqui!rs..rs..
    Nada é por acaso...Aprender rever e Sentir... é busca é Salto.
    Um abraço

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  6. @Janice
    @Nathalie
    @Sílvia
    @Bya
    Eu é que agradeço as visitas e os comentários carinhosos de vocês. Sejam sempre muito bem vindas!!!!
    Grande bjo

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