O Eterno Agora – um poema e as histórias que ele despertou

Em 2011 escrevi um poema chamado O Eterno Agora e o publiquei aqui no blog. Anos depois, em 2012 ou 2013, decidi também compartilhá-lo no Facebook. Foi aí que começou uma história inesperada.

O poema chegou ao poeta, locutor e músico Eric Santos, que me convidou para interpretá-lo no lançamento de seu álbum, em São Paulo, num bar do Itaim Bibi. Relutei no início — será que poesia caberia num bar? —, mas aceitei e foi uma experiência deliciosa. O público foi receptivo e generoso.

Naquela noite conheci Esmeralda, uma portuguesa que estava de passagem pela cidade. Ela se aproximou emocionada, dizendo o quanto o poema a havia tocado. A razão era profunda: Esmeralda tinha passado por um delicado transplante de fígado e renascido para a vida. O tema central do poema, a urgência de viver o presente, ressoava diretamente em sua experiência pessoal.

Fizemos amizade imediata. E em 2014, quando viajei a Portugal para palestras e estudos de astrologia, nos reencontramos, ela foi numa palestra. Ao final fez um convite: me levar para conhecer sua casa na Reserva da Comporta, em Setúbal. Foi um passeio inesquecível: atravessamos a Serra da Moeda, pegamos a balsa até Comporta, almoçamos à beira-mar e brindamos. 

Ali me dei conta e disse a ela: se estávamos juntos naquele lugar tão especial, era porque um dia eu havia postado um poema no Facebook.

Eis o texto, tal como foi escrito:

O Eterno Agora

Se quiser falar comigo tem que ser agora.
Amanhã desmontarei minha casa e meu corpo
Pra dar espaço a algo novo que ainda não sei o que é.
Estarei nas esquinas vendendo meus poemas
E mesmo que ninguém os compre,
Declamarei ao vento.

Se quiser ajuda tem que ser agora,
Porque daqui a pouco dobro a curva
E atravesso a chuva sozinho.
Cantando e gritando enquanto acendo as velas,
Sangrando atravessado por uma flecha.
Aquela mesmo – a do cupido.

Se quiser me perguntar algo tem que ser agora.
Daqui a pouco já ditei todas as fábulas,
Fechei as cortinas,
Esqueci meu nome
E me deitei, completando a agenda.

Fale depressa, estenda-se no meu pensamento,
Misture sua voz na minha,
Pra que eu possa acordar com uma voz diferente na boca.
Amanhã serei um cometa, uma estrela, uma lua...
Porque minha alma é incendiária,
Toda a cidade corre o risco de se consumir em chamas.
Portanto, se quiser falar comigo,
Tem que ser agora.
E agora.
E agora também...

Reflexão final

Esse poema nasceu de um impulso íntimo, mas me ensinou que a poesia pode atravessar fronteiras e criar laços de forma surpreendente. Palavras escritas num momento de solidão tocaram um músico, ganharam voz no palco, emocionaram uma estrangeira que renascia para a vida e me conduziram até um almoço à beira-mar em Portugal. Foi uma lição viva: não basta escrever sobre o agora — é preciso habitá-lo plenamente.

Gostou? Aqui você pode ler todos os poemas publicados no blog.