CHORAR SEMPRE


(crônica dedicada à minha Lua em Câncer)

A primeira vez que chorei foi quando nasci. De lá pra cá não mudou muito. Eu choro quando quero e em qualquer lugar. Pra mim é tão fácil!... Por qualquer motivo. Às vezes me bate aquela vontade, eu paro e digo: agora! E num instante a voz se torna embargada, os olhos umedecidos, as lágrimas salgadinhas vão encharcando o rosto, o coração vai se apertando e a vida grita que está viva, cada vez mais forte.

Adoro, sou viciado em chorar. Se passo um dia inteiro sem sentir esse gostinho bom das lágrimas, no outro choro em dobro. Minha família e meus amigos já estão se acostumando com essa estranha mania. Alguns ainda me pegam de surpresa num canto, me deleitando com prantos de prazer, e entortam a boca com ar de reprovação.

Aliás, eis o ponto: não faço apologia dos prantos de dor, raiva, tristeza, sofrimento - que também são benéficos por ajudar a aliviar um sentimento negativo - mas sim do pranto que limpa. Se choramos de felicidade é porque sentimos a vida mais interessante. É essa a magia. Pode parecer idiota chorar ao ver uma cena de novela, um filme. Mas nesse tipo de choro leve exercitamos a compaixão.

Dedico as méritos do meu choro aos que bloqueiam as boas emoções, aos que tem medo, aos que tem o coração endurecido pelo preconceito. Enfim, um choro bem chorado vale mais que mil palavras.

Experimentem! No começo pode parecer difícil, mas aos poucos os bloqueios e as travas dos sentimentos vão se afrouxando e a energia flui naturalmente. A memória emotiva se intensifica e quando percebemos estamos chorando apenas por gostar do cheiro de uma flor. Quando nos damos conta, um alívio, uma paz imensa invade a alma e a vida se torna puro deleite. Cuidado com o excesso, nem preciso dizer, devemos seguir sempre o caminho do meio. É preciso chorar comedidamente, mas chorar sempre!

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