Mensagem na Página 73 – Um Novo Conto Para um Novo Livro

Mão feminina retira um bilhete dobrado de um livro antigo em uma biblioteca, ilustrado em estilo pintura a óleo.

Às vezes, tudo começa com uma dobra no tempo. Ou com uma dobra de papel, esquecida dentro de um livro.

Este conto nasceu assim: de um bilhete perdido entre páginas de física quântica e de um encontro que não estava programado — mas talvez estivesse escrito.

Faz parte de um novo projeto de ficção que venho desenvolvendo aos poucos, onde realidades paralelas, coincidências improváveis e pequenas fissuras no cotidiano abrem espaço para o mistério e o afeto.

Boa leitura!

Mensagem na Página 73

Lívia nunca tinha pisado naquela biblioteca. Só entrou porque precisava de um lugar silencioso para revisar um artigo de física quântica, e a faculdade inteira parecia ter migrado para a cafeteria do campus. Escolheu uma mesa perto da janela, subiu para a ala de ciências e pegou um livro ao acaso: Princípios de Mecânica Ondulatória, edição de 1977. Capa azul, lombada gasta, cheiro de papel antigo.

Ao abri-lo, entre as páginas 73 e 74, uma folha dobrada caiu. Papel branco, liso, dobrado com cuidado. Curiosa, Lívia desdobrou e começou a ler.

"Leonardo Azevedo Leal

Nascido em 2 de julho de 2005

Se você está lendo este bilhete, significa que funcionou. Você descobriu como viajar no tempo. A primeira tentativa foi um sucesso, mas ainda não é possível trazer nada material, apenas informação. Esta mensagem chegou até você porque foi deixada no ponto exato da linha de dobra.

Hoje é 2 de julho de 2025. São 15h48. Você está na biblioteca, sentado à esquerda da janela da ala de exatas, com uma blusa azul, e o livro está na sua frente. Sei que parece improvável, mas tudo isso faz parte do que você mesmo vai descobrir. A física está certa. Continue.

Talvez você esteja pensando em desistir. Não faça isso. Você vai conseguir. Esse bilhete é a prova de que deu certo.

Você sempre teve olhos de quem vê o que ninguém vê — palavras da vó Cida, que nunca saíram da sua cabeça. E, se ainda duvida, lembre do corte no dedão esquerdo, quando caiu da caixa d’água em janeiro de 2012. E da frase que você rabiscou na página 19 deste livro, margem inferior: “tempo é dobra, não linha”. Você nem lembra de ter escrito isso, mas está lá.

Leia, estude, avance. Não comente com ninguém ainda. Quando chegar a hora, você vai saber.

— Você (2042)"

Lívia ficou imóvel por alguns segundos. Conferiu a página 19. A frase estava lá. Pequena, a lápis, bem no canto da margem inferior. "Tempo é dobra, não linha." 

Seu coração disparou. Olhou ao redor. Mesa da janela. Blusa azul. 15h48.

Antes que pudesse pensar no que fazer, ouviu uma voz atrás dela, descontraída:

— Não acredito que alguém mais nesse mundo ainda lê esse livro...

Ela se virou devagar. Um rapaz com expressão curiosa, cabelo meio bagunçado, mochila no ombro. Tinha algo de familiar, mesmo sem ela saber por quê.

— Você é o Leonardo Azevedo Leal?

Ele franziu a testa, surpreso.

— Sou... como você sabe meu nome?

Ela olhou de novo para o bilhete. Depois, para ele. Sentiu algo que ainda não sabia nomear, mas que parecia o começo de uma história que não era só dela — nem só dele.

— Acho que esse bilhete é seu — disse, estendendo o papel com cuidado.

Ele pegou, leu em silêncio. A expressão foi mudando conforme avançava no texto. Parou. Passou a mão no rosto. Depois sorriu, com aquele tipo de sorriso que mistura espanto, alívio e um certo medo bom.

— Isso... isso é a minha letra.

— Eu sei.

— E isso tudo... é real?

Lívia deu um leve sorriso de canto.

— Eu sou da área de exatas. Costumo acreditar no que posso provar. Mas hoje... hoje talvez eu abra uma exceção.

Fim

Se essa história mexeu com você, fique por perto. E se acha que a história merece continuação, deixe um comentário! Outras mensagens, outras páginas e outras galáxias ainda vão aparecer por aqui. Neste link você encontra todos os contos publicados no blog.

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