Walkyria Maria: Mistura de Dor e Alegria

Os opostos convivem em Walkyria Maria. Aliás, apenas Walkyria — como prefere ser chamada.

— Maria é um nome bonito, mas muito comum… — diz ela.

Bela em sua esquisitice, lúcida em sua loucura, inteligente em sua ingenuidade. Surge na festa e desaparece sem ser notada. Às vezes acham até que ela se desintegra no ar.

Quando anda, parece que flutua. Gosto de observar sua dança: Walkyria move os braços como se estivesse em câmera lenta. Ouço uma conversa aqui, outra ali, sempre com algum mistério a seu respeito. Dizem que seus pais são milionários e vivem viajando. Foi criada por babás que não duravam no emprego — ela as assustava com suas maluquices.

Seu estilo preferido é o gótico, influência da irmã mais velha, seu ideal de liberdade. Estuda pra ser estilista. Confecciona suas próprias roupas — esquisitas, sim, mas com autenticidade. Mais estranho ainda é seu bicho de estimação: um sapo chamado Flofy, que ela carrega pra cima e pra baixo numa gaiolinha de acrílico furada, pra ele poder respirar. Cuida dele como se fosse seu príncipe encantado, que um dia vai se transformar e levá-la embora para viver num castelo.

Não sei se anda sempre sozinha por escolha, ou se são as pessoas que têm medo de se aproximar. Já vi rapazes tentando puxar assunto na pista de dança... mas quando dizem algo mais ousado no seu ouvido, levam um tapa na cara. Sim, ela já bateu em vários. Eu mesmo fui testemunha.

Nessa festa em especial, estava mais linda do que nunca — vestido preto com mangas listradas e uma aranha enorme bordada no peito. Incrivelmente, um garoto de cabelo moicano e o rosto cheio de piercings conseguiu se aproximar sem levar o famoso tabefe. Ficaram um bom tempo conversando num canto escuro.

Pensei: Hoje deve ser um dia mágico. Finalmente Walkyria desencalhou!

Mas no fim da noite, vi os dois na chapelaria. Walkyria foi buscar o Flofy pra ir embora com o rapaz. Quando ele viu o sapo, arregalou os olhos e saiu correndo. Fugiu sem nem se despedir.

Walkyria se esgueirou cabisbaixa pela porta de saída. Não, ela não se desintegra. Anda de táxi, sente tristeza e alegria como todos nós, simples mortais.

(Gosta de personagens inusitados, crônicas sensíveis e toques de magia no cotidiano? Explore outras histórias aqui no blog.)