A forma como se produz energia é uma das questões fundamentais em relação ao futuro da humanidade. E agora, com a explosão das usinas nucleares no Japão, este tema ganha ainda mais destaque. Ontem vi na TV que há no Brasil projetos para a construção de mais cinco usinas e fiquei intrigado: precisamos mesmo correr este risco? Fui pesquisar...
Dilma, em seu pronunciamento de posse, disse que o governo buscará o crescimento acelerado sem destruição do meio ambiente, e que o direcionamento será dado na busca de investimentos e estudos para produção de fontes limpas e renováveis de energia. Será mesmo? Precisamos ficar atentos. No caso da energia nuclear, informações técnicas, econômicas, financeiras, de segurança, relatórios operativos, entre outros documentos são muitas vezes considerados sigilosos e não disponíveis publicamente. Esta fonte de energia acentua o caráter autoritário na condução da política energética no país.
Segundo entrevista de Joaquim Francisco de Carvalho, ex-diretor de uma empresa responsável pelas usinas de Angra 1, 2 e 3 há um violento lobby americano para que se construa este tipo de usina no Brasil. "As empresas em países mais desenvolvidos investem muito em lobby", diz. Para aliviar o custo deles, eles empurram para cima da gente", critica Carvalho. "Saí por isso mesmo, não concordava com essas coisas".
Carvalho, hoje aposentado e professor da Universidade de São Paulo, calcula que apenas sistemas hidrelétricos, eólicos e térmicos seriam suficientes para gerar energia para a população brasileira até 2040. Afirma também que mesmo com todas as medidas de segurança, os acidentes acontecem porque "não há obra completamente segura". "Correr esse risco quando não se precisa é burrice", conclui.
O Japão infelizmente correu o risco e aconteceu esse terremoto horrível. Mas eles não tinham alternativas. A França também não tem alternativas e corre um risco grande se houver um acidente nuclear. A Alemanha tem consciência disso e a chanceler Angela Merkel suspendeu o plano que estendia o prazo de vida de usinas nucleares no país. (Matéria completa aqui.)
Além do risco de explosões e vazamentos, segundo um estudo da WWF (Fundo Mundial da Natureza) publicado o mês passado, os resíduos deixados pelas centrais produtoras de energia nuclear são “perigosos” e “altamente tóxicos”, podendo mesmo permanecer desta forma durante 10 mil anos. A WWF reporta ainda no relatório que os Estados Unidos e a Alemanha acumularam um total de mais de 62 mil toneladas deste tipo de material “altamente radioativo”, sem o terem conseguido eliminar de forma segura. A Agência de Proteção Ambiental americana salienta que terão de passar pelo menos 10 mil anos para que a sua ameaça à saúde pública seja substancialmente reduzida. (Informações retiradas do Jornal HOJE MACAU).
Como se não bastasse, para os brasileiros o maior impacto da instalação de usinas nucleares será nas tarifas. A Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia Elétrica (Abrace) projeta que até 2014 o preço da energia subirá mais de 30%. Pagamos uma das mais altas tarifas do mundo e com tendência de aumento. Sem dúvida, o uso da eletricidade nuclear irá contribuir ainda mais para a elevação das tarifas de energia elétrica no Brasil
O custo de uma central nuclear é enorme, da ordem de R$ 10 bilhões. Mas este valor gigantesco está aquém dos valores finais da obra. Há ainda os custos de armazenamento dos resíduos, da desmontagem da central após sua vida útil e limpeza de locais contaminados, o reforço da linha elétrica para distribuição, e os serviços de fiscalização e segurança, entre outros. (Maiores detalhes e todos os argumentos contra as usinas nucleares aqui.)
No caso de Angra III a estimativa de custos da obra, que era de R$ 7,2 bilhões em 2008, pulou para R$ 10,4 bilhões até o final de 2010, de acordo com a Eletronuclear. Em resumo, os gastos em usinas nucleares são um verdadeiro escoadouro para os recursos públicos. Quem pagará por esta insanidade? O povo brasileiro. (Dados retirados daqui.)
A população deve estar cada vez mais informada sobre isso, para que não se permita tais absurdos. Há opções tecnológicas para energia limpa e renovável, como por exemplo, a energia solar. Os custos para sistemas solares fotovoltaicos caíram a um ponto no qual são menores do que projetos de novas usinas nucleares, de acordo com matéria publicada na VEJA (aqui). Há também a energia eólica, a energia geotérmica, a energia das ondas do mar, entre outras.
O consumo consciente e responsável se torna cada vez mais importante (reduntante dizer que é nosso futuro que está em jogo). Outra boa solução seria esta: etiquetar todos os produtos com a quantidade de energia consumida para a sua produção (assim como a informação calórica dos produtos alimentares). Joel de Rosnay em seu livro O MACROSCÓPIO (Ed. Estratégias Criativas) propõe que o valor monetário que damos às coisas seja complementado com o valor do gasto energético, que seria expresso numa unidade um universal de energia: as kilocalorias.
Para concluir, vejam a sincronicidade: justo quando preparava este artigo, recebi um email do Greepeace com o mesmo assunto. Nesta quarta-feira (16.03) haverá um bate-papo online com Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de energia do Greenpeace, para esclarecer todos os riscos da energia nuclear e quais são os tipos de energia mais seguros para o Brasil. O link para participar está aqui.
O espaço para comentários está aberto para sugestões e mais informações. Vamos levantar essa bandeira cada vez mais alto, a favor de energias limpas, da consciência ecológica, do amor pelo planeta e por toda a humanidade. Sejamos felizes!
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