
Tudo isso pra abrir um buraco na realidade morna, pra desse buraco escorrer uma chuva transcendente junto com um coro de vozes misteriosas a penetrar cada poro de nossos corpos.
É uma vontade irresistível de levar o momento presente pra dentro da eternidade, me dedicar ao extremo exercício da beleza, trazer o movimento da dança pra quem vive arrastando pedras, cuidar de todas as feridas com a minha voz e contaminar de sentimentalismo até mesmo o coração mais implacável.
Quero uma vida inovadora em minhas frases. Elas devem ser fluidas e penetrantes. Quero que em meu ato de escrever esteja um grito fabuloso, armado pelas tantas variedades de amores possíveis. Que cada letra seja um prodígio, que cada palavra seja divina, um céu habitado pela vida quimérica dos santos.
Provocarei gargalhadas que curam o medo, darei de presente canções que iluminam as sombras, a miséria, o esquecimento. Pretendo me transformar numa respiração de clareza e entendimento, pra poder abrir os caminhos dos que têm coragem. Rasgar de vez essa ilusão abismada, chacoalhar o mundo pra que todos despertem desse sono sufocante.
É uma vontade maior, irrefreável, de abrir todas as portas, acender todas as luzes e aposentar as chaves. De dedicar cada instante a fazer com que ondas de perplexidade alaguem homens, mulheres e crianças, pra trazer de volta o brilho em todos os olhares.
Um dia aprenderei o segredo de provocar silêncios, daqueles que surgem quando se compreende tudo. Aprenderei a parar todos os ruídos e encontrarei o vazio pleno de beatitude, quando não se quer mais nada.
E tenho dito!